22 janeiro 2012

MARIO BENEDETTI (1920-2009)


Amor de tarde

Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las cuatro
y acabo la planilla y pienso diez minutos
y estiro las piernas como todas las tardes
y hago así con los hombros para aflojar la espalda
y me doblo los dedos y les saco mentiras.

Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las cinco
y soy una manija que calcula intereses
o dos manos que saltan sobre cuarenta teclas
o un oído que escucha como ladra el teléfono
o un tipo que hace números y les saca verdades.

Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las seis.
Podrías acercarte de sorpresa
y decirme "¿Qué tal?" y quedaríamos
yo con la mancha roja de tus labios
tú con el tizne azul de mi carbónico.

Amor à tarde

É uma pena não estares comigo
quando olho o relógio e são quatro
e acabo o formulário e penso dez minutos
e estico as pernas como em todas as tardes
e faço assim com os ombros para relaxar as costas
e dobro os dedos e deles tiro mentiras.

É uma pena não estares comigo
quando olho o relógio e são cinco
e eu sou uma manivela que calcula juros
ou duas mãos que pululam sobre quarenta teclas
ou um ouvido que escuta como berra o telefone
ou um tipo que manipula números e com eles fabrica verdades.

É uma pena não estares comigo
quando olho o relógio e são seis:
Podias chegar-te ao pé de mim de surpresa
e dizer: "Como estás?" e ficaríamos assim:
eu com a mancha vermelha dos teus lábios
tu com a marca azul do meu papel químico.

Sem comentários:

Enviar um comentário