01 fevereiro 2012

Wislawa Szymborska (1923-2012)


LOVE AT FIRST SIGHT

They’re both convinced
that a sudden passion joined them.
Such certainty is beautiful
but uncertainty is more beautiful still.
Since they’d never met before, they’re sure
that there’d been nothing between them.
But what’s the word from the streets, staircases, hallways –
perhaps they’ve passed each other by a million times?
I want to ask them
if they don’t remember –
a moment face to face
in some revolving door?
perhaps a “sorry” muttered in a crowd?
a curt “wrong number” caught in the receiver? –
but I know the answer.
No, they don’t remember.
They’d be amazed to hear
that Chance has been toying with them
now for years.
Not quite ready yet
to become their Destiny,
it pushed them close, drove them apart,
it barred their path,
stifling a laugh,
and then leaped aside.
There were signs and signals
even if they couldn’t read them yet.
Perhaps three years ago
or just last Tuesday
a certain leaf fluttered
from one shoulder to another?
Something was dropped and then picked up.
Who knows, maybe the ball that vanished
into childhood’s thickets?
There were doorknobs and doorbells
where one touch had covered another
beforehand.
Suitcases checked and standing side by side.
One night perhaps some dream
grown hazy by morning.
Every beginning
is only a sequel, after all,
and the book of events
is always open halfway through.



AMOR À PRIMEIRA VISTA

Ambos estão convencidos de
que uma súbita paixão se juntou a eles.
Tal certeza é linda
mas a incerteza é mais bela ainda.

Visto nunca se terem conhecido antes, estão certos
que nada haverá que os separe.
Mas qual é a opinião das ruas, escadarias, corredores -
por que talvez já passaram um milhão de vezes?

Gostaria de lhes perguntar
se eles não se lembram -
de um instante face a face
nalguma porta giratória?
Talvez de um "desculpe" murmurado entre a multidão?
De um breve "número errado" deixado no auscultador? -
mas eu sei a resposta.
Não, eles não se lembram.

Surpreender-se-iam
por saber que a Sorte tem brincado com eles
já há alguns anos.

Ainda não totalmente pronta
para se tornar no seu Destino,
fê-los juntar-se, separou-os,
barrou-lhes o caminho,
sufocando uma risada,
e depois saltou para o lado.

Havia sinais e indícios
mesmo que não pudessem lê-los ainda.
Talvez há três anos
ou já na última terça-feira
uma certa folha vogou
de um ombro a outro?
Algo caiu e depois foi apanhado.
Talvez, quem sabe, a bola que desapareceu
nos matagais da infância?
Houve maçanetas e campainhas
onde um toque tinha coberto um outro
de antemão.
Malas de viagem verificadas, estacando lado a lado.
Uma noite , talvez algum sonho
tornado-se difuso pela manhã.

Todo o começo
é apenas uma continuação, afinal,
e o livro de acontecimentos
está sempre aberto a meio.

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