29 fevereiro 2012

Yannis Ritsos (1909-1990)

PERPLEXITY


Closed shops. Flour spilt upon the pavement.
Sandbags heaped by the shelter. Hands folded,
sad, he sits behind the garden's gate. A mob
of swallows flies over, their shadows crossing
his face. He bends over and gathers flowers.
He makes a wreath. Will he put it on?

PERPLEXIDADE

Lojas fechadas. Farinha derramada sobre o chão.
Sacos de areia empilhados pelo abrigo. De mãos cruzadas,
triste, ele senta-se atrás da porta do jardim. Uma multidão
de andorinhas sobrevoa-o, as suas sombras atravessando
o seu rosto. Debruça-se e colhe flores.
               Faz uma coroa. Será que vai pô-la?

28 fevereiro 2012

Delmira Agustini (1886-1914)

Boceto inconcluso     

A veces, cuando el amado y yo soñamos en silencio,
-un silencio agudo y profundo como el acecho
de un sonido insólito y misterioso-
siento como si su alma y la mía corrieran lejanamente,
por yo no sé qué tierras nunca vistas,
en un raudal potente y rumoroso...

Esboço incompleto

Às vezes, quando eu e o meu amado sonhamos em silêncio
- Um silêncio agudo e profundo como perseguindo
um som insólito e misterioso -
sinto como se a sua alma e a minha corressem longe
por não sei que terras nunca vistas,
num fluxo potente e murmurante ...

27 fevereiro 2012

David Harsent (1942-)

NECROPHILIA
 
No wayward promise, nothing to shake the heart,
nothing to warm to, no trace of harm or hurt,

nothing of jealousy, no risk of bliss,
the wide, white eye; the perfect parting kiss. 
 
 
NECROFILIA

Nenhuma promessa rebelde, nada para abalar o coração,
nada para aquecer, nenhum resto de dano ou mágoa,

nada de ciúme, nenhum risco de prazer,
o grande e branco olho; o perfeito beijo de despedida.
 

25 fevereiro 2012

Douglas Dunn (1942-)

LARKSONG

A laverock in its house of air is singing
May morning, May morning, and its trills drift
High on the flatland's abstract hill
In the down-below of England.
I am the aerial photograph it takes of me
On a sonar landscape
And it notates my sorrow
In Holderness, where summer frost
Melts from the green like her departing ghost 

O CANTO DA COTOVIA
Uma cotovia na sua aérea casa está cantando;
Manhã de Maio, manhã de maio, e os seus trinados viajam
até ao alto do monte abstrato das planícies
no extremo sul de Inglaterra.
Eu sou a fotografia aérea que ela me tira
numa paisagem sonar
que repara na minha tristeza
em Holderness, onde a geada de
verão
se derrete no verde como o seu fantasma que parte.

24 fevereiro 2012

Maya Angelou (1928-)


A CONCEIT

Give me your hand.
Make room for me
to lead and follow
you
beyond this rage of poetry.
Let others have
the privacy of
touching words
and love of loss
of love.
For me
Give me your hand. 

UMA IDEIA

Dá-me a tua mão.

Arranja espaço para te
  conduzir e acompanhar
além desta fúria da poesia.

Deixa que os outros tenham
a privacidade de
  palavras emocionantes
e o amor da perda
do amor.
 
Dá-me a tua mão
por mim.



 

23 fevereiro 2012

A. E. Housman (1859-1936)

HERE DEAD WE LIE  

Here dead we lie Because we did not choose To live and shame the land From which we sprung.
 
Life, to be sure,  Is nothing much to lose, But young men think it is, And we were young.

MORTOS AQUI JAZEMOS

 Mortos aqui jazemos
 porque não escolhemos
 viver e envergonhar a terra
 de onde saímos.

 A vida, é certo,
 não vale a sua perda,
 mas os jovens pensam que vale,
 E nós éramos jovens.

22 fevereiro 2012

Patience Agbabi (1965-)

THE STING

At twelve I learnt about The Fall,
had rough-cut daydreams based on original sin,
nightmares about the swarm of thin-
lipped, foul-mouthed, crab apple-
masticating girls who'd chase me full
throttle: me, slipping on wet leaves, a heroine
in a black-and-white cliche; them, buzzing on nicotine
and the sap of French kisses. I hated big school
but even more, I hated the lurid shame
of surrender, the yellow miniskirt
my mother wore the day that that man
drove my dad's car to collect me. She called my name
softly, more seductive than an advert.
I heard the drone of the engine, turned and ran.

A PICADA 

Aos doze anos ouvi falar sobre A Queda,
tive quasi-devaneios baseados no pecado original,
pesadelos com o enxame de meninas de
lábio fino, boca suja, mastigando maçãs,
que me perseguiam a toda a velocidade:
eu, escorregando em folhas molhadas, uma heroína
num cliché a preto e branco; elas, zumbindo em nicotina
e na seiva de beijos com língua. Eu odiava a secundária
mas, mais do que isso, eu odiava a lúgubre vergonha
da rendição, a mini-saia amarela
que a minha mãe usava no dia em que aquele homem
foi-me buscar no carro do meu pai. Ela chamou-me pelo nome
suavemente, mais sedutora do que um anúncio.
Eu ouvi o barulho do motor, virei-me e corri.


21 fevereiro 2012

Alice Oswald (1966-)

DAISY

I will not meet that quiet child
roughly my age but match-size
I will kneel low enough to her lashes
to look her in her open eye
or feel her hairy wiry strength
or open my mouth among her choristers
I will not lie small enough under her halo
to smell its laundered frills
or let the slightest whisperiness
find out her friendliness
because she is more
summer-like more meek
than I am I will push my nail
into her neck and make
a lovely necklace out of her green bones
MARGARIDA

Eu não vou encontrar essa criança tranquila
mais ou menos da minha idade, mas do mesmo tamanho
 
Vou ajoelhar-me à altura das suas pestanas
olhá-la no olho aberto
ou sentir a sua força peluda e magra
ou abrir a boca entre os seus coralistas
 
Não vou deitar-me, pequena o suficiente, sob a sua auréola
  para cheirar as suas franjas lavadas
ou deixar que o menor sussuro
descubra a sua simpatia
 
porque ela é mais
verão, mais dócil
 
do que eu - vou empurrar a minha unha
pelo seu pescoço e fazer
um colar lindo dos seus ossos verdes.

20 fevereiro 2012

Blas de Otero (1916-1976)


CIEGAMENTE

Porque quiero tu cuerpo ciegamente.
porque deseo tu belleza plena.
Porque busco ese horror, esa cadena
mortal, que arrastra inconsolablemente.

Inconsolablemente. diente a diente,
vos bebiendo tu amor, tu noche llena.
Diente a diente, Señor, y vena a vena
vas sorbiendo mi muerte. Lentamente.

Porque quiero tu cuerpo y lo persigo
a través de la sangre y de la nada.
porque busco tu noche toda entera.

Porque quiero morir, morir contigo
esta horrible tristeza enamorada
que abrazarás, oh, Dios, cuando yo muera.

CEGAMENTE

Porque eu quero o teu corpo cegamente.
Porque desejo a tua beleza plena.
Porque olho esse horror, essa corrente
mortal, que se alastra inconsolavelmente.

Inconsolavelmente. dente a dente,
vou bebendo o teu amor, a tua noite cheia.
Dente a dente, Senhor, e veia a veia
vais sugando a minha morte. Lentamente.

Porque eu quero o teu corpo e persigo-o
através do sangue e do nada.
Porque busco a tua noite toda, inteira.

Porque eu quero morrer, morrer contigo
esta terrível tristeza enamorada
que abraçarás, oh, Deus, quando eu morrer.

19 fevereiro 2012

Giorgos Seferis (1900-1971)

EPIGRAMA

Un borrón en el verde secante
un verso apagado sin final,
una pala de ventilador estival
que ha cortado el denso calor;
el ceñidor que se quedó en mis manos
cuando el deseo cruzó a la otra orilla
-esto es lo que puedo ofrecerte, Perséfone,
apiádate de mí y concédeme el sueño de una hora.

                                                                           Octubre 1939


EPIGRAMA

Uma mancha na mata-borrão verde
um verso apagado, sem final,
uma pá da ventoinha estival
que atenuou o denso calor;
o cinto que ficou nas minhas mãos
quando o desejo cruzou a outra margem
- isto é o que posso oferecer-te, Perséfone,
tem pena de mim e dá-me o sono de uma hora.

                                                                            Outubro de 1939


18 fevereiro 2012

MANUEL MACHADO (1874-1947)

EL CAMINO DE LA MUERTE...

Es el camino de la muerte.
Es el camino de la vida...

En la frescura de las rosas
ve reparando. Y en las lindas
adolescentes. Y en los suaves
aromas de las tardes tibias.

Abraza los talles esbeltos
y besa las caras bonitas.

De los sabores y colores
gusta. Y de la embriaguez divina.
Escucha las músicas dulces.

Goza de la melancolía
de no saber, de no creer, de
soñar un poco. Ama y olvida,
y atrás no mires. Y no creas
que tiene raíces la dicha.
No habrás llegado hasta que todo
lo hayas perdido. Ve, camina...
Es el camino de la muerte.
Es el camino de la vida.

O CAMINHO DA MORTE...

É o caminho da morte.
É o caminho da vida ...

No frescor das rosas
vai reparando. E nas belas
adolescentes. E no macio
aromas das tardes quentes.

Abraça as cinturas finas
e beija os rostos bonitos.

Dos sabores e das cores
gosta. E da embriaguez divina.
Ouve as músicas doces.

Goza a melancolia
de não saber, de não acreditar, de
sonhar um pouco. Ama e esquece,
e não olhes para trás. E não penses
que tem raízes a felicidade.
Não chegarás lá até que tudo
tenhas perdido. Vai, anda ...
É o caminho da morte.
É o modo de vida.


17 fevereiro 2012

Charles Simic (1938-)

WATERMELONS

Green Buddhas
On the fruit stand.
We eat the smile
And spit out the teeth. 

MELANCIAS

Budas verdes
na banca da fruta.
Comemos o sorriso
e cuspimos os dentes.




16 fevereiro 2012

Rita Dove (1952-)

FLIRTATION

After all, there’s no need
to say anything

at first. An orange, peeled
and quartered, flares

like a tulip on a wedgewood plate
Anything can happen.

Outside the sun
has rolled up her rugs

and night strewn salt
across the sky. My heart

is humming a tune
I haven’t heard in years!

Quiet’s cool flesh—
let’s sniff and eat it.

There are ways
to make of the moment

a topiary
so the pleasure’s in

walking through.

FLIRT

Afinal, não há necessidade
de dizer alguma coisa

a princípio. Uma laranja descascada
e aos quartos, labaredas

como uma tulipa sobre um prato de loiça chinesa
Tudo pode acontecer.

Lá fora, o sol
enrolou os seus tapetes

e a noite lançou sal
através do céu. O meu coração

entoa uma melodia
  que já não ouvia há anos!

O silêncio é uma pele fresca -
vamos cheirá-la e comê-la.

Há maneiras
de fazer do momento

uma topiária
para que o prazer se faça

  em percorre-la.

15 fevereiro 2012

WALLACE STEVENS (1879-1955)



POETRY IS A DESTRUCTIVE FORCE

That's what misery is,
Nothing to have at heart.
It is to have or nothing.

It is a thing to have,
A lion, an ox in his breast,
To feel it breathing there.
Corazón, stout dog,
Young ox, bow-legged bear,
He tastes its blood, not spit.

He is like a man
In the body of a violent beast.
Its muscles are his own . . .

The lion sleeps in the sun.
Its nose is on its paws. 
It can kill a man.

A POESIA É UMA FORÇA DESTRUTIVA

Isto é o que é a miséria:
Não ter nada no coração.
Trata-se de a ter ou nada.

É uma coisa que se tem,
Um leão, um boi no nosso peito,
Para senti-la respirando ali.
Corazón, cão robusto,
um boi novo, um urso de patas arqueadas:
Ele prova o seu sangue, não o cuspo.

Ele é como um homem
no corpo de uma besta violenta.
Os seus músculos são os dela. . .

O leão dorme ao sol.
  Tem o nariz sobre as patas.
Ele pode matar um homem.

14 fevereiro 2012

LEOPOLDO LUGONES (1874-1938)

HISTORIA DE MI MUERTE

Soñé la muerte y era muy sencillo:
Una hebra de seda me envolvía,
y a cada beso tuyo
con una vuelta menos me ceñía.
Y cada beso tuyo
era un día.
Y el tiempo que mediaba entre dos besos
una noche. La muerte es muy sencilla.
Y poco a poco fue desenvolviéndose
la hebra fatal. Ya no la retenía
sino por un sólo cabo entre los dedos...
Cuando de pronto te pusiste fría,
y ya no me besaste...
Y solté el cabo, y se me fue la vida.


HISTÓRIA DA MINHA MORTE

Sonhei com a morte e era muito simples:
Uma fibra de seda envolvia-me,
e a cada beijo teu
uma volta menos me cingia.
E cada beijo teu
era um dia.
E o tempo que mediava entre dois beijos
uma noite. A morte é muito simples.
E pouco a pouco ia-se fiando
a fibra fatal. Já não a retinha
senão por um só fio entre os dedos ...
Quando de repente te tornaste fria,
e faltaste-me no beijo ...
Deixei o fio ir, e acabou-se-me a vida.

13 fevereiro 2012

W.S. Merwin (1927-)

LANGUAGE


Certain words now in our knowledge we will not use again, and we will never forget them. We need them. Like the back of the picture. Like our marrow, and the color in our veins. We shine the lantern of our sleep on them, to make sure, and there they are, trembling already for the day of witness. They will be buried with us, and rise with the rest.

LINGUAGEM

Certas palavras que agora conhecemos não iremos usar novamente, e nunca iremos esquecê-las. Precisamos delas. Como a parte de trás da imagem. Como a nossa medula, e a cor nas nossas veias. Nós incidimos a lanterna do nosso sono sobre elas, para estarmos certos, e elas ali estão, tremendo perante o dia do testemunho. Elas serão enterradas connosco, e surgirão com o resto.




12 fevereiro 2012

Luis Garcia Montero (1958-)

El amor

Las palabras son barcos
y se pierden así, de boca en boca,
como de niebla en niebla.
Llevan su mercancía por las conversaciones
sin encontrar un puerto,
la noche que les pese igual que un ancla.

Deben acostumbrarse a envejecer
y vivir con paciencia de madera
usada por las olas,
irse descomponiendo, dañarse lentamente,
hasta que a la bodega rutinaria
llegue el mar y las hunda.

Porque la vida entra en las palabras
como el mar en un barco,
cubre de tiempo el nombre de las cosas
y lleva a la raíz de un adjetivo
el cielo de una fecha,
el balcón de una casa,
la luz de una ciudad reflejada en un río.

Por eso, niebla a niebla,
cuando el amor invade las palabras,
golpea sus paredes, marca en ellas
los signos de una historia personal
y deja en el pasado de los vocabularios
sensaciones de frío y de calor,
noches que son la noche,
mares que son el mar,
solitarios paseos con extensión de frase
y trenes detenidos y canciones.

Si el amor, como todo, es cuestión de palabras,
acercarme a tu cuerpo fue crear un idioma.


O amor

As palavras são barcos
e assim se perdem, de boca em boca,
como de névoa em névoa.
Trocam as suas mercadorias por conversas
sem encontrar um porto,
uma noite, que lhes pese o mesmo que uma âncora.

Devem acostumar-se a envelhecer
e viver com a paciência da madeira
gasta pelas ondas,
a ir decaindo, a definhar lentamente,
até que ao monótono porão
chegue o mar e as afunde.

Porque a vida invade as palavras
como o mar invade um barco
encobre com o tempo o nome das coisas
e leva à raiz do adjectivo
o céu de uma data
a varanda de uma casa
a luz de uma cidade reflectida num rio.

Por isso, de névoa em névoa,
quando o amor invade as palavras,
e bate nas suas paredes, deixa-lhe
as marcas de uma história pessoal
e no passado dos vocabulários
sensações de frio e de calor,
noites que são a própria noite
mares que são o próprio mar
passeios solitários tão longos quanto uma frase
e comboios retidos e músicas.

Se o amor, como tudo, é uma questão de palavras,
estar perto do teu corpo foi criar uma linguagem.

11 fevereiro 2012

Gerard Manley Hopkins (1844-1889)

'The child is father to the man.'
 
'The child is father to the man.' 
How can he be? The words are wild.
Suck any sense from that who can:
'The child is father to the man.'
No; what the poet did write ran,
'The man is father to the child.'
'The child is father to the man!'
How can he be? The words are wild!
 

"A criança é o pai do homem".


"A criança é o pai do homem".
Como pode ele ser? São estranhas as palavras.
Tire daí qualquer sentido quem puder:
"A criança é o pai do homem".
Não, o que o poeta realmente escreveu foi,
"O homem é o pai da criança."
"A criança é o pai do homem!"
Como pode ele ser? São estranhas as palavras!

10 fevereiro 2012

Raymond Knister (1899-1932)


CHANGE

I shall not wonder more, then,
But I shall know.
Leaves change, and birds, flowers,
And after years are still the same.
The sea's breast heaves in sighs to the moon,
But they are moon and sea forever.
As in other times the trees stand tense and lonely,
And spread a hollow moan of other times.
You will be you yourself,
I'll find you more, not else,
For vintage of the woeful years.
The sea breathes, or broods, or loudens,
Is bright or is mist and the end of the world;
And the sea is constant to change.
I shall not wonder more, then,
But I shall know.


MUDANÇA

Não me perguntarei mais, então,
mas saberei.

As folhas mudam, e os pássaros e as flores,
e depois de anos ainda são os mesmos.

O peito do mar eleva-se em suspiros para a lua,
mas eles são lua e mar eternamente.

Como noutros tempos, as árvores permanecem tensas e solitárias
e espalham um oco gemido de outros tempos.

Tu vais ser tu mesmo,
e vou encontrar-te mais vezes, não outro,
pela altura dos anos de desventura.

O mar respira, ou cisma, ou amplifica-se,
É brilhante ou é névoa e o fim do mundo;
E é constante na mudança.

Não me perguntarei mais, então,
mas saberei.


09 fevereiro 2012

Amy Lowell (1874-1925)


THE TAXI

When I go away from you
The world beats dead
Like a slackened drum.
I call out for you against the jutted stars
And shout into the ridges of the wind.
Streets coming fast,
One after the other,
Wedge you away from me,
And the lamps of the city prick my eyes
So that I can no longer see your face.
Why should I leave you,
To wound myself upon the sharp edges of the night?

O TÁXI

Quando me afasto de ti
o mundo bate sem força
como um tambor que enfraquece.
Eu chamo-te entre as estrelas lá no alto
e grito pelas cristas do vento.
As ruas, vindo rápido,
uma a seguir à outra,
levam-me para longe de ti,
e os candeeiros da cidade furam-me os olhos
para que não mais contemple a tua face.
Porque deverei eu abandonar-te,
para acabar magoada nas afiadas esquinas da noite?

08 fevereiro 2012

Tennessee Williams (1911-1983)


WE HAVE NOT LONG TO LOVE

We have not long to love.
Light does not stay.
The tender things are those
we fold away.

Coarse fabrics are the ones
for common wear.
In silence I have watched you
comb your hair.

Intimate the silence,
dim and warm.
I could but did not, reach
to touch your arm.

I could, but do not, break
that which is still.
(Almost the faintest whisper
would be shrill.)

So moments pass as though
they wished to stay.
We have not long to love.
A night. A day.... 

NÃO TEMOS MUITO TEMPO PARA AMAR

Não temos muito tempo para amar
a luz vai desaparecendo,
as coisas que amamos são as mesmas
que em breve perderemos.

Os piores vestidos são os que
diariamente se vão usar.
Os teus cabelos já te vi pentear,
em silêncio - íntimo,
escuro e caloroso.

Tentaria tocar-te num braço,
mas escolhi não o fazer.

Podia, mas não quis, quebrar
aquilo que se mantém imóvel.
(O mais ténue suspiro
Quase seria um estridente grito).

Por isso, os momentos passam
Como se quisessem ficar
E não temos muito tempo para amar
Uma noite. Um dia...

07 fevereiro 2012

e.e. cummings (1894-1962)

i carry your heart with me(i carry it in
my heart)i am never without it(anywhere
i go you go,my dear; and whatever is done
by only me is your doing,my darling)
i fear
no fate(for you are my fate,my sweet)i want
no world(for beautiful you are my world,my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you

here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life;which grows
higher than the soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart
i carry your heart(i carry it in my heart)


Eu levo o teu coração comigo (levo-o no
meu coração) e dele nunca estou longe (a qualquer lugar
que eu vá, meu amor, e o que quer que seja feito
por mim é uma extensão do que me fazes, meu querido)
Eu temo
não ter destino (porque tu és o meu destino, meu amor) eu não quero
nenhum mundo (porque de tão belo tu és o meu mundo, meu amor)
e és tu tudo aquilo que a lua sempre significou
e o que quer que o sol cante és tu

o mais fundo segredo aqui reside ninguém sabe
(aqui é a raiz da raiz e o botão do botão
e o céu dos céus de uma árvore chamada vida; que cresce
mais do que a alma possa esperar ou a mente possa esconder)
e esta é a maravilha que mantém separadas as estrelas

Eu levo o teu coração comigo (levo-o no meu coração)

06 fevereiro 2012

Alfred Tennyson (1809-1892)

The Owl

1

When cats run home and light is come,
And dew is cold upon the ground,
And the far-off stream is dumb,
And the whirring sail goes round,
And the whirring sail goes round;
Alone and warming his five wits,
The white owl in the belfry sits.

 2

When merry milkmaids click the latch,
And rarely smells the new-mown hay,
And the cock hath sung beneath the thatch
Twice or thrice his roundelay,
Twice or thrice his roundelay;
Alone and warming his five wits,
The white owl in the belfry sits.


A CORUJA

1

Quando os gatos voltam para casa e a luz aparece,
E o orvalho é frio sobre a terra,
E o riacho distante não canta,
E a pá do moinho gira, zumbindo,
E a pá do moinho gira, zumbindo,
Só e acalentando os seus cinco sentidos,
sentada está a branca coruja na torre sineira.

2

Quando as alegres leiteiras abrem o trinco,
E raramente cheira a feno acabado de cortar,
E o galo canta sob o colmo
Duas ou três vezes o seu estribilho,
Duas ou três vezes o seu estribilho;
Só e acalentando os seus cinco sentidos,
sentada está a branca coruja na torre sineira.