30 março 2012

Julián del Casal (1863-1893)


Las horas

¡Qué tristes son las horas! Cual rebaño
de ovejas que caminan por el cielo
entre el fragor horrísono del trueno,
y bajo un cielo de color de estaño.

Cruzan sombrías en tropel huraño,
de la insondable Eternidad al seno,
sin que me traigan ningún bien terreno,
ni siquiera el temor de un mal extraño.

Yo las siento pasar sin dejar huellas,
cual pasan por el cielo las estrellas,
y aunque siempre la última acobarda,

de no verla llegar ya desconfío,
y más me tarda cuanto más la ansío
y más la ansío cuanto más me tarda.

As horas

Que triste são as horas! Qual rebanho
de ovelhas que caminham no céu
entre o terrível estrondo do trovão,
sob um céu da cor do estanho.

Cruzam sombrias num atropelo esquivo,
da eternidade insondável no peito,
sem que me tragam qualquer bem terreno
nem sequer o temor de um raro mal.

Sinto-as passar sem deixar rastro,
como através do céu passam as estrelas,
e, embora a última sempre se acobarde,

quando não a vejo chegar logo desconfio,
e mais me tarda quanto mais a anseio
e mais a anseio quanto mais me tarda.


John Betjeman (1906-1984)

How to get on in society

Phone for the fish knives, Norman
As cook is a little unnerved;
You kiddies have crumpled the serviettes
And I must have things daintily served.

Are the requisites all in the toilet?
The frills round the cutlets can wait
Till the girl has replenished the cruets
And switched on the logs in the grate.

It's ever so close in the lounge dear,
But the vestibule's comfy for tea
And Howard is riding on horseback
So do come and take some with me

Now here is a fork for your pastries
And do use the couch for your feet;
I know that I wanted to ask you-
Is trifle sufficient for sweet?

Milk and then just as it comes dear?
I'm afraid the preserve's full of stones;
Beg pardon, I'm soiling the doileys
With afternoon tea-cakes and scones. 

Como ser bem sucedido em sociedade

Chame alguém para que traga as facas do peixe, Norman,
visto o cozinheiro estar um pouco nervoso;
Vocês, pequenos, amassaram os guardanapos
  e eu preciso ter as coisas meticulosamente dispostas!

Estão todos os artigos de toilete na casa de banho?
  As franjas de papel à volta das costeletas podem esperar
até que a menina tenha reabastecido as galhetas
  e posto os toros a arder na lareira.

  Está-se sempre tão apertado no salão, meu caro,
Mas o vestíbulo é confortável para o chá
E o Howard está a montar a cavalo
por isso venha e tome um pouco comigo.

Ora aqui está um garfo para a pastelaria fina
E por favor assente os pés no sofá;
Já sei o que queria perguntar-lhe-
O semi-frio tem suficiente doce?

Leite e, depois exactamente como é feito, não é meu caro?
Receio que a geleia esteja cheia de grainhas;
Peço perdão, estou a sujar o pano de renda
Com os bolos do chá e os scones.

29 março 2012

Álvaro García (1965-)

Palabras
Yo sigo el rastro de la tinta oscura
para encontrar palabras que sean lo que son y al mismo tiempo
lo que no pueden ser, lo que transita.

Las horas que gastamos en pensar;
la exactitud de lo que no es exacto;
el margen de equilibrio que admite que los dedos del presente nos mancillen.

La sensación de estar donde no estamos
y también la contraria:
no ser jamás del todo lo que somos.

Materia y consistencia y transparencia:
como una fina lámina de mármol
deja pasar la luz.

Palavras

Eu sigo o rasto da tinta escura
para encontrar as palavras que são o que são e, ao mesmo tempo
o que não podem ser, o que muda.

As horas que gastamos a pensar;
a exactidão do que não é exacto;
a margem de equilíbrio que permite que os dedos do presente nos manchem.

A sensação de estar onde não estamos
e também a contrária:
nunca ser plenamente o que somos.

Matéria e consistência e transparência:
como uma fina lâmina de mármore
deixa passar a luz.

28 março 2012

Gregory Corso (1930-2001)

Birthplace Revisited

I stand in the dark light in the dark
street
and look up at my window, I was
born there.
The lights are on; other people are
moving about.
I am with raincoat; cigarette in
mouth,
hat over eye, hand on gat.
I cross the street and enter the
building.
The garbage cans haven't stopped
smelling.
I walk up the first flight; Dirty Ears
aims a knife at me…
I pump him full of lost watches. 

Local de Nascimento Revisitado

Estou no escuro, na escuridão da
rua
e olho para a minha janela - tinha
nascido ali.
As luzes estão acesas; outras pessoas
circulam.
Eu estou com a gabardine vestida; cigarro na
boca,
chapéu sobre o olho, mão na pistola.
Atravesso a rua e entro no
edifício.
As latas de lixo não ainda pararam
de feder.
Eu ando até o primeiro lanço; O Orelhas Sujas
aponta-me uma faca...
E
eu deixo-o cheio de buracos.

27 março 2012

Lauren Mendinueta (1977-)

El dominio

Me asomo a la tarde, miro las nubes de soslayo,
desplazándose vistas y exaltadas sobre el pico de la montaña.
Se deslizan hacia el olvido de la mirada,
hacia el coro urdido por el silencio, o más allá.
En esta cárcel, mi condena,
la muerte está sentada al otro lado de la salida.
No me abandonará por ahora,
ella seguirá presa en mí, mientras afuera llueve
y el recordado azul del cielo se vuelve agua en los cristales.

O domínio

Debruço-me sobre a tarde, olho as nuvens de soslaio,
deslocando-se visíveis e pronunciadas sobre o cimo da montanha.
Elas deslizam até ao esquecimento do olhar,
até ao coro que o silêncio urde, ou ainda mais além.
Nesta prisão, condenação minha,
a morte está sentada do outro lado da saída.
Não me deixará por ora,
continuará presa a mim, enquanto chove lá fora
e o lembrado azul do céu se transmuta em água nos cristais.

26 março 2012

Fina García Marruz (1923-)

Al despertar

Al despertar
uno se vuelve
al que era
al que tiene
el nombre com que nos llaman,
al despertar
uno se vuelve
seguro,
sin pérdida,
al uno mismo
al uno solo
recordando
lo que olvidan
el tigre
la paloma
en su dulce despertar.

Ao despertar

Ao despertar
voltamos a ser
o que se era
o que tem
o nome com que nos chamam,
ao despertar
voltamos
seguros,
sem desperdício,
a nós próprios
a nós mesmos
recordando
o que esquecem
o tigre
a pomba
no seu doce despertar.

25 março 2012

Charles Bukowski (1920-1994)

This kind of fire      

sometimes I think the gods
deliberately keep pushing me
into the fire
just to hear me
yelp
a few good
lines.

they just aren't going to
let me retire
silk scarf about neck
giving lectures at
Yale.

the gods need me to
entertain them.

they must be terribly
bored with all
the others

and I am too.

and now my cigarette lighter
has gone dry.
I sit here
hopelessly
flicking it.

this kind of fire
they can't give
me.

Este tipo de fogo

Às vezes eu acho que os deuses
deliberadamente continuam a empurrar-me
para o fogo
só para me ouvir
ganir
  umas poucas de
linhas.

eles simplesmente não vão
deixar-me aposentar
lenço de seda ao pescoço
dando palestras em
Yale.

os deuses precisam de mim para
entretê-los.

eles devem estar terrivelmente
entediado com todos
os outros

e eu também estou.

e agora o meu isqueiro
ficou seco.
Sento-me aqui
desesperadamente
a tentar acendê-lo.

este tipo de fogo
eles não me podem
dar.

24 março 2012

Carlos Pujol (1936-)

Para nombrar el mundo...

Para nombrar el mundo,
que es claro y misterioso como el agua,
busco nuevas canciones que resuenen
como um campanilleo en la memoria.
Y el tiempo vuelve atras, como si nunca
se le hubiera ocurrido abandonarnos,
y por unos instantes la alegría
parecer sernos fiel
y quedarse esta vez va para siempre.

Para nomear o mundo ...

Para nomear o mundo
que é claro e misterioso como a água,
procuro novas canções que ressoem
como uma campainha na memória.
E o tempo volta atrás, como se nunca
tivesse pensado em abandonar-nos,
e por uns instantes, a alegria
parece ser-nos fiel
e desta vez ficar para sempre.

23 março 2012

Glyn Maxwell (1962-)

      Museum    

Sundays, like a stanza break
Or shower's end of all applause,
For some old unexplaining sake
The optimistic tread these shores,
As lonely as the dead awake
Or God among the dinosaurs.

Museu

Os domingos, como o corte de uma estrofe
  ou o fim de uma chuva de aplausos,
Pelo amor antigo de algo inexplicável
Os optimistas percorrem estas costas,
Tão solitários quanto os mortos acordados
ou Deus entre os dinossauros.

22 março 2012

Jesús Lopez Santamaría (1942-)

I

Nace la luz
                        Y brilla,
                                               No del cielo,
Ni de la noche,
                        Ni de las estrellas
De extraños firmamentos,
                                               Ni de lámparas
Colgadas en los techos,
                                   Ni del alba
Que espera despertarnos más humanos.


Nace la luz
                        Y brilla
                                               Porque somos
Fuego
                        Y en fuego convertimos
Cuanto tocamos:
                                   Luz y brillo,
Lengua
De
Fuego


I


Nasce a luz
                   e brilha,
                                Não do céu
Nem da noite,
                        nem das estrelas
Dos estranhos firmamentos,
                                            Nem das lâmpadas
Pendurada nos tectos,
                                   Nem da madrugada
que espera acordar-nos mais humanos.


Nasce a luz
                   e brilha
                               Porque somos
Fogo
                               E em fogo convertemos
aquilo que tocamos:
                                Luz e brilho,
Língua
De
fogo.

21 março 2012

Pascale Petit (1953-)

The Bus

I have not yet caught the bus, but we are all here
ready to play our parts: the housewife with her basket,
the barefoot mother nursing her child,
the boy gazing out the window just as later
he'll stare through the smeared pane and catch
the tram's advance, his eyes wide as globes.
The gringo holds his bag of gold dust.
I am next to him, sixteen, my body still
intact when the bag explodes and something
bright as the sun fills the air with humming motes
that stick to my splattered skin. Then the labourer
with his mallet will heave the silver post out of me.
His blue overalls are clean. He is not surprised to find me
alive. Here, in Coyoacán at the stop, where the six of us
wait on a bench side by side, just as we will sit
in the wooden bus, comrades in the morning of my life.

O Autocarro

Ainda não apanhei o autocarro, mas estamos todos aqui
prontos para desempenhar os nossos papéis: a dona de casa com a sua cesta,a mãe descalça amamentando o seu filho,
o menino olhando pela janela, assim como mais tarde
ele vai olhar através do cortina manchada e aproveitar
o avanço do veículo, os seus olhos arregalados como globos.
O gringo segura no seu saco de pó de ouro.
Estou ao lado dele, dezasseis anos, e o meu corpo ainda
intacto quando explode o saco e algo
brilhante como o sol enche o ar com sonoras partículas
que se colam à minha pele salpicada. Em seguida, o trabalhador
com o seu martelo irá tirar o poste de prata de cima de mim.
 O seu macacão azul está limpo. Ele não fica surpreso ao encontrar-me viva. Aqui, em Coyoacán, na paragem, onde nós os seis esperamos lado a lado num banco, tal como nos sentaremos
no autocarro de madeira, companheiros na manhã da minha vida.

20 março 2012

Gilberto Owen (1904-1952)

Es ya el cielo...

Es ya el cielo. O la noche. O el mar que me reclama
con la voz de mis ríos aún temblando en su trueno,
sus mármoles yacentes hechos carne en la arena,
y el hombre de la luna con la foca del circo,
y vicios de mejillas pintadas en los puertos,
y el horizonte tierno, siempre niño y eterno.
Si he de vivir, que sea sin timón y en delirio.


Já é o céu...

Já é o céu. Ou a noite. Ou o mar que me chama
com a voz dos meus rios ainda tremendo no seu ecoar,
os seus mármores jazentes, feitos carne na areia,
e o homem da lua com a foca do circo,
e vícios de bochechas pintadas nos portos,
e o horizonte terno, sempre novo e eterno.
Se tenho de viver, que seja sem rumo e em delírio.

19 março 2012

José Albi (1922-)

Soneto de la ausencia

¿Me oyes, amor? Hay un fragor de trenes,
o quizá de batanes o de espigas
que te aleja de mí. No, no me digas
que te irás para siempre. Los andenes

se despoblaron. Yo, regreso. Penes
por donde penes, corazón, no sigas,
no te sigas marchando. Más fatigas
y más amor perdido si no vienes.

Ay, dolor, que yo sé lo que me pasa.
Que mi casa sin ti ya no es mi casa,
y el aire ni respira ni madura.

Que estás dentro de mí, pero no basta
aunque te lleve hasta los huesos, hasta
la misma pena que hasta ti me dura.

Soneto da ausência

Ouves-me, amor? Há um rumor de comboios,
ou talvez de pisões ou de espigas

que te afasta de mim. Não, não me digas
que te irás para sempre. As plataformas

ficarão sem ninguém. Eu volto. Por onde

quer que andes a penar, amor, não continues,
não continues andando. É mais o cansaço
e mais o amor perdido se não vens.

Oh, dor, eu sei bem o que comigo se passa:
A minha casa sem ti não é a minha casa
e o ar nem respira nem amadurece.

Tu estás dentro de mim, mas isso não basta
ainda que até nos ossos te traga, até na
própria pena em que por ti permaneço.


18 março 2012

Tess Gallagher (1943-)

Yes

Now we are like that flat cone of sand
in the garden of the Silver Pavilion in Kyoto
designed to appear only in moonlight.

Do you want me to mourn?
Do you want me to wear black?

Or like moonlight on whitest sand
to use your dark, to gleam, to shimmer?

I gleam. I mourn.

Sim

Agora somos como aquele cone plano de areia
no jardim do Pavilhão de Prata em Kyoto
projetado para aparecer apenas quando há luar.

Tu queres que eu lamente?
Queres que me vista de preto?

Ou como o luar na areia mais branca
que use a sua escuridão para refulgir, para brilhar?

Eu brilho. Eu lamento.

17 março 2012

Federico García Lorca (1898-1936)

DESEO
 
Sólo tu corazón caliente,
y nada más.
Mi paraíso un campo
sin ruiseñor
ni liras,
con un río discreto
y una fuentecilla.
Sin la espuela del viento
sobre la fronda,
ni la estrella que quiere
ser hoja.
Una enorme luz
que fuera
luciérnaga
de otra,
en un campo
de miradas rotas.
Un reposo claro
y allí nuestros besos,
lunares sonoros
del eco,
se abrirían muy lejos.
Y tu corazón caliente,
nada más. 

DESEJO

o teu coração quente,
e nada mais.

O meu paraíso - um campo
sem rouxinol
nem liras,
com um rio discreto
e uma pequena fonte.

Sem o roçar do vento
na folhagem,
nem a estrela que almeja
ser folha.

Uma luz enorme
que havia sido
vaga-lume

 de outra,
num campo
de olhares quebrados.

Um repouso claro
e ali os nossos beijos,
Sons lunares
do eco,
escutados muito ao longe.

E o teu coração quente,
nada mais.

16 março 2012

José Martí (1853-1895)


Y te busqué por pueblos...

Y te busqué por pueblos,
Y te busqué en las nubes,
Y para hallar tu alma,
Muchos lirios abrí, lirios azules.

Y los tristes llorando me dijeron:
¡Oh, qué dolor tan vivo!
¡Que tu alma ha mucho tiempo que vivía
En un lirio amarillo!

Mas dime ¿cómo ha sido?
¿Yo mi alma en mi pecho no tenía?
Ayer te he conocido,
Y el alma que aquí tengo no es la mía.

Procurei-te por povoações...

Procurei-te por povoações,
procurei-te nas nuvens,
e para achar a tua alma,
muitos lírios abri, lírios azuis. 

E os tristes, chorando, disseram-me:
Ó, que dor tão viva!
Que a tua alma há muito tempo vivia
num lírio amarelo!

Mas diz-me, como foi?
No meu peito a minha alma não tinha?
Ontem conheci-te
e a alma que aqui tenho não é minha.



 

15 março 2012

Marianne Moore (1887-1972)

SILENCE

My father used to say,
"Superior people never make long visits,
have to be shown Longfellow's grave
nor the glass flowers at Harvard.
Self reliant like the cat -
that takes its prey to privacy,
the mouse's limp tail hanging like a shoelace from its mouth --
 
they sometimes enjoy solitude,
and can be robbed of speech
by speech which has delighted them.
The deepest feeling always shows itself in silence;
not in silence, but restraint."
Nor was he insincere in saying, "`Make my house your inn'."

Inns are not residences. 

SILÊNCIO
O meu pai costumava dizer,
"As pessoas superiores nunca fazem visitas demoradas,
nunca tem de se lhe mostrar a campa de Longfellow
ou as flores de erva em Harvard.
Auto-suficientes como um gato -
levando a presa para a sua privacidade,
a cauda mole de um rato pendendo, como um sapato, da sua boca -

por vezes elas apreciam a solidão,
e podem ficar sem palavras
perante palavras que as deliciem.
O mais profundo sentimento manifesta-se no silêncio;
não no silêncio, mas na contenção."
Nem estava a mentir quando dizia, "Faz da minha casa a tua pousada".

Pousadas não são Moradas.

14 março 2012

Roger Wolfe (1962-)

DEMOCRACIA

Otra maldita tarde
de domingo, una de esas
tardes que algún día escogeré
para colgarme
del último clavo ardiendo
de mi angustia.
En la calle
familias con niños,
padres y madres
sonrosadamente satisfechos
de su recién cumplido
deber electoral;
gente encorvada sobre radios
que escupen datos, porcentajes
en los bancos.
Corderos de camino al matadero
dándole a escoger el arma
al matarife.

DEMOCRACIA

Outra tarde maldita
de domingo, uma daquelas
tardes que um dia escolherei
para pendurar-me
no última preço ardente
da minha angústia.
Na rua
famílias com crianças,
pais e mães
rosadamente satisfeitos
com o seu recém-cumprido
dever eleitoral;
pessoas debruçados sobre rádios
cuspindo dados, percentagens
nos bancos.
Cordeiros no caminho para o abate
dando a escolher a arma
ao açougueiro.

13 março 2012

Jorge Luis Borges (1899-1986)

A un gato

No son más silenciosos los espejos
Ni más furtiva el alba aventurera;
Eres, bajo la luna, esa pantera
Que nos es dado divisar de lejos.
Por obra indescifrable de un decreto
Divino, te buscamos vanamente;
Más remoto que el Ganges y el poniente,
Tuya es la soledad, tuyo el secreto.
Tu lomo condesciende a la morosa
Caricia de mi mano.
Has admitido,
Desde esa eternidad que ya es olvido,
El amor de la mano recelosa.
En otro tiempo estás.
Eres el dueño
de un ámbito cerrado como un sueño.

A um gato

Não são mais silenciosos os
espelhos
nem mais furtiva a madrugada aventureira;
És, ao luar, essa pantera
que nos é dado a ver à distância.
Por obra indecifrável ​​de um decreto
divino, buscamos-te em vão;
Mais remoto que o Ganges e o poente,
é tua a solidão, teu o seu segredo.
A tua coxa permite a vagarosa
carícia da minha mão.
Aceitaste,
Desde essa eternidade que já esquecemos,
o amor da mão desconfiada.
Noutro tempo estás.
És o dono
de um espaço fechado como um sonho.

12 março 2012

Manuel Gutierrez Nájera (1859-1895)


Para el álbum

El verso es ave: busca entumecido
follaje espeso y resplandores rojos:
¿Qué nido más caliente que tu nido?
¿Qué sol más luminoso que tus ojos?

Para o álbum



O verso é uma ave: busca entorpecido
folhagem espessa e resplendores vermelhos:
  Que ninho é mais quente que o teu ninho?
Que sol é mais brilhante que os teus olhos?

11 março 2012

Alvaro Cunqueiro (1911-1981)

Noviazgo 2

Los fragmentos de espejos amaban ríos.
Amistades con la sal. Con las cosas más antiguas.
Una novia de las fuentes y de los pájaros novios.
Los cabellos despiertos. La sal imagen mansa,
central de noches vivas. La luna cosa antigua.
Una piedra hierve su talle. El río anda.
¡Qué inexactos y justos los colores de la novia!
Un ave sonora como una margarita,
síes y noes naturales sabor de flor reciente.
Cada espejo una vena escurridiza y fría
donde gotea el olor de los ríos desiguales.
Sobre silencios nítidos la novia de los pájaros.
He ahí la dormida. Un pecho sólo.
Una novia de cosas. Como en cualquier estampa
los fragmentos de espejo amaban ríos.

 Namoro 2

  Os fragmentos de espelhos amavam rios.
Amizades com o sal. Com as coisas mais antigas.
  Uma noiva das fontes e dos pássaros noivos.
O cabelo desperto. O sal, imagem calma,
central de noites vivas. A lua, coisa antiga.
Uma pedra ferve o seu feitio. O rio anda.
Que emprecisas e justas são as cores da noiva!
Uma ave sonora como uma margarida,
  sins e nãos naturais, sabor de flor recente.
Cada espelho uma veia escorregadia e fria
de onde goteia o cheiro dos rio desiguais.
Sobre silêncios nítidos, a noiva dos pássaros.
  Completou aí o sono. Um peito apenas.
  Uma noiva de coisas. Como em qualquer estampa
  os fragmentos do espelho amavam rios.

10 março 2012

Ted Kooser (1939-)


Father
Today you would be ninety-seven
if you had lived, and we would all be
miserable, you and your children,
driving from clinic to clinic,
an ancient fearful hypochondriac
and his fretful son and daughter,
asking directions, trying to read
the complicated, fading map of cures.
But with your dignity intact
you have been gone for twenty years,
and I am glad for all of us, although
I miss you every daythe heartbeat
under your necktie, the hand cupped
on the back of my neck, Old Spice
in the air, your voice delighted with stories.
On this day each year you loved to relate
that the moment of your birth
your mother glanced out the window
and saw lilacs in bloom. Well, today
lilacs are blooming in side yards
all over Iowa, still welcoming you.

Pai

Hoje tu farias noventa e sete anos
Se estivesses vivo, e estaríamos todos
miseráveis, tu e os teus filhos,
conduzindo de clínica a clínica,
um velho e medroso hipocondríaco antigo
e o seu filho e filha irritáveis,
perguntando o caminho, tentando ler
o complicado e esvaecente mapa das curas.

Mas com a tua dignidade intacta
já desapareceste há quase vinte anos,
e eu estou contente por todos nós, embora
sinta a tua falta todos os dias, o coração a bater
sob a tua gravata, a mão em concha
na parte de trás do meu pescoço, Old Spice
no ar, a tua voz encantada com as histórias.
 
A cada ano neste dia adoravas contar
que no momento do teu nascimento
a tua mãe olhou pela janela
e viu lilases em flor. Bem, hoje,
os lilases florescem em canteiros laterais
por todo o Iowa, ainda para te receber.